Espelhamento

O terror do meu Ego é o próprio engano!

Por entre os meus lábios conjurei um escândalo,

correta, inflexível e voraz expliquei cada dano,

pensei que essas ações nos distanciavam por entre os anos.

Ignorante, em mim, olhei para ti e vi um vândalo.

Mas os Deuses sempre abrem as portas,

para todas as almas, até as mais indispostas...

Então fui apresentada ao Mundo dos Espelhos!

Se antes nos via como opostos,

hoje vejo o quanto me assemelho.

Verdade seja dita, meu querido

Eu sou cheia de preconceitos!

Uma juíza cruel para os seus defeitos,

idolatro-me por amar-te assim, imperfeito.

Olho para esse mundo cheio de sujeitos

E mal consigo contabilizar quantos precisam ser refeitos!

Agora pergunto-me:

— Pr'onde foi meu respeito?

Onde vibra o amor no meu peito?

Onde está a doçura na minha pronúncia?

Onde está a minha compreensão pelas circunstâncias?

De onde veio o meu direito de julgar as instâncias?

Hoje vejo tudo que julguei em ti

refletido e encarcerado em mim!

É preciso mudar para externalizar,

me renunciar para ressignificar,

me desconstruir para continuar!

Pois, eu errei

Meus Deuses, como errei!

Usei a minha verdade enganosa rudemente

consciente das armadilhas da mente!

Com o peito impuro me pus a orar

por alguém que eu não ousaria abraçar...

Estava crente que a dor ajudaria

meu ímpeto punitivo te libertaria!

Não tive bondade para que,

em mim, pudesse se refugiar...

Não tive nobreza para te respeitar,

nem soube falar para, tua angústia, acalmar.

A minha intolerância fez o desprezo despertar

e a revolução do ser se dispersar...

Sinto que dei migalhas para o desesperado mendigar...

É preciso aprofundar para cicatrizar,

no cais do arrependimento

há um novo barco a navegar...

É preciso sabedoria para se desculpar

gentileza para perdoar!

É preciso responsabilidade para falar,

curar para não mais atacar!

Que os Deuses possam me redirecionar

Que abram-se as portas para que eu possa transitar

através dos mundos, vagar para questionar...

Que no agora eu possa me encontrar,

que eu possa desapegar para elevar!

E que um dia as nossas almas possam dançar

e que nessa dança cósmica você possa me perdoar...

Peço perdão por cada palavra que te amargou,

peço perdão por cada afago que te calejou,

peço perdão pela solidão que o meu julgo te causou

e pela forma como o meu riso deslegitimou

o seu cansaço, sua luta e sua dor.

Pela escória eu continuarei a caminhar,

conhecendo o mundo enquanto calar.

Quem sou eu para te julgar?

Não me lembro...

Quais foram as estradas de Ouro que conheci?

Não me lembro dos lençóis nobres que repousei quando adoeci...

Mas me lembro da sensação do grito mudo,

me lembro de como é usar o meu próprio corpo de escudo,

de como é cavar com as unhas o chão bruto

para ter onde me exilar, fugindo daquele horror absurdo...

Me lembro bem, muito bem

de como duvidaram de mim em cada prosa

e hoje digo uma verdade e ainda me sinto receosa

acreditando que todos me têm como uma mentirosa...

Vê bem, meu bem?

Eu quis ser superior

queria que admitisse o meu esplendor

queria ser a mais bela,

a mais incrível maravilha!

Queria que visse como a minha mente brilha

só para ocultar que no meu esconderijo

há sangue respingado em cada ladrilho,

e que as minhas raízes estão sob esse chão quebradiço

cheio de vermes e cadáveres apodrecidos...

Vê bem, meu bem?

Eu ainda rastejo com as vozes esquecidas

e ainda cheiro como aquelas andarilhas.

Quem sou eu para te julgar?

Se eu mesma permaneço putrefada

e intocada pela própria evolução

pedindo ajuda pelo tempo que desperdicei em vão.

Vê bem, meu bem?

Te vejo refletido em minha visão,

mesmo que os pedaços da nossa alma

estejam jogados pelo chão,

e que sua imagem pareça distante,

perdida nesse espelhamento

habitado na minha ilusão.

A Aristocrata
Enviado por A Aristocrata em 12/02/2023
Reeditado em 25/02/2023
Código do texto: T7717961
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2023. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.