Quem é Deus? O que é o Diabo?
Dizem que Deus é uma luz acendida,
e que o Diabo, mil velas apagadas,
que Deus está num prato de comida,
o Diabo, a própria fome desgraçada.
Deus é o assalariado em sua lida,
o Diabo é carícia, o sexo e a paixão,
Deus está no choro da despedida,
o Diabo, no dinheiro e consagração.
No Diabo, vê-se traíções e mentiras.
Deus, verdadeiras glórias alcançadas,
o Diabo, maestria das almas perdidas,
Deus, misericórdia das sagras palavras.
Dizem que Deus é careta, nostalgia,
que o Diabo é novidade, movimento,
Deus é a simplicidade do dia a dia,
o Diabo é o luxo do arrebatamento.
Supõe-se que o Diabo seja a morte,
e que Deus, o abraço da vivacidade,
o Diabo, cônjuge da tua má-sorte,
Deus, eternamente a tua amizade.
Quando não, Deus é a opressão,
o Diabo, um pregador da liberdade,
para Deus, poucos terão a salvação,
para o Diabo, isso tudo é futilidade.
O Diabo diz ser os prazeres do mundo,
Deus, "Sou o caminho, verdade e a vida",
o Diabo; "estou no tal sucesso profundo",
Deus diz: "Sou a cura de todas as feridas".
Afinal, quem é Deus? O que é o Diabo?
São crendices, seres enigmáticos?
Seres míticos, místicos, realidade?
Longe de mim querer ser enfático,
mas o homem os tem por necessidade.
* Reedição textual, elaborado para uma exposição literária/filosófica há dez anos, numa universidade da Baixada Santista.