Carnes Nuas
restitúido à simples condição humana
tenho ao meu ser perguntado
qual o motivo de gana
para sem objetivo continuar
minha mente sufoca mil vontades
trazendo afiada a memória
das intrasponíveis dificuldades
que se atravessa sem glória
frio, moribundo desde o nascimento
é assim que se vai
amontoado de tripas e excremento
que não sabe por onde entra ou sai
tolhido de qualquer atributo,
carne flácida, fólego pouco,
de nada é sobra do bruto,
que era forte e menos louco
é animal sim, animal, animal
mas, sem a força de outrora
apenas refém de instintos é o tal
que o conduzem até agora
ainda que couraça, ou embrulho
de valores, que se joga ao vento
formando apenas pilha de entulho
que nos desperta de alguma forma tormento.
eu, réstia de réstia
fruto perdido, que não se encara
e finge ter modéstia
daquilo que de todos me separa
mar de amargor, comigo proponho,
atravesso ele a nado
e chegar a praia é sonho
é valor de fardo
e como reconhecer-me tão incapaz
pode fazer ver no outro
um canto de salva paz?