Estridente
Belém, 16 de agosto de 2022.
Fiz este poema enraivecido.
Pensado enquanto o grilo trabalhava
E que função é esta de barulhar tanto?
Estudei que não passa de um pseudo canto.
Não da voz, mas das asas
Artrópode lá do obscuro castilho de sua solidão
E querendo as fêmeas no instinto da vida animália
Teima nesta maldição escondido de minha sandália.
E poderia jogar-lhe uma baforada de inseticida
Mas não consigo, sei lá, não acho ético
Pois se sei de sua presença atacando-me os ouvidos
Ele deveria saber de meus planos punitivos
E eis que o estridor cresce nos tímpanos
Então compreendo porque falamos o termo "grilado"
Vigília coercitiva da mente acordada
Acocorada nos problemas agora voltada
O grilo, cruel, me condena implacável
e comenta "xiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii, tu não tens a saída"
Eu ouço na escuridão o som desta crítica
E não permite nenhuma forma de imaginação mítica
De vingança, seu grilo, não te darei ares antropomórficos
Realismo eu me visto pra te julgar como inseto
E apesar de eu defender a paz aprendizado que mantive
Resmungo à esposa: "quanto tempo um grilo vive?".