FOME DE ESCALAR
Esta hora mesma, o agora,
demanda súbita pausa
Uma reticência que não
impede continuação.
O tempo de desligar
todos os aparelhos
e tudo aquilo que nos mensura
apenas a superfície do Ser
E nos leva, sem sangue,
às cicatrizes do espírito.
Um tiro no peito
Uma pedra no bico do sapato
Uma inspiração sem oxigênio
Uma noite de breu
Até a Lua, nua,
fora descansar em
sua própria luz.
Esta hora mesma, sem adiações,
que demanda a nudez imediata:
o desfazer-se de todas as roupas
e vestimentas outras
que fatigam
e reproduzem escravidão.
Os braços queimam e murmuram
O tostão que vai à boca
A comida pouca
O afeto escasso
O amor-enlaço.
Se o corpo pausar,
quê ou quem a mente
fará estática
permanecer em restauração?
Os deslocamentos cá dentro se dão.
O corpo pede apagão
A alma voa
E o tempo é pouco
para quem sente
fome de escalar.