Hereges

(À Gertrud Mersiovsky)

por muito pouco, algumas almas sucumbem

tornam-se ocas e disformes

vergam de frio, de fome, de farsa

de sombra - vergam de si próprias

umas dessas almas são sempre a cinza

dos espíritos

carbonizados de anteontem

e seus pés plantam o mofo

do fim do mundo e das mortes vividas

azul-escuras de todas as crianças

natimortas, abortadas, estupradas, interrompidas

outras dessas almas lúgubres

são amarelo-ouro, sorriem,

gargalham despudoradas

dentes sacrílegos

indiferentes à miséria, à indigência

à demagogia, à escravidão

almas lascivas que riem

aos brados vermelhos - de hienas

esses bichos que todas as vezes

dão horrendas gargalhadas

que "se alimentam" de fezes

e de carcaças pútridas estraçalhadas...

Ouçam! Vejam! Ó anjos! Leiam as harmonias!

Como tremem!

São a cura do mundo! São as sangrias

do Órgão Sauer-Walcker da Catedral de Bremen!