O LIMBO PODE SER UM DITONGO
A diferença entre o Limbo e o Nirvana
é que, quando adentramos ao Nirvana,
o tato aquieta a alma e o silêncio alimenta,
permitindo, enfim, ao ente doente a contemplação
da sutil beleza da imobilidade eterna.
No Limbo, entretanto, tudo é ausente
e, então, faz-se do nada presente na mente
a falta que comprime o conceito
e subjuga o sujeito, deste modo feito
objeto decimal composto por pálidos relâmpagos
e desarranjadas aranhas a esculpir desalinhadas teias.
Engano crer que o Limbo como tal é também Infinito,
não o é e nem ao menos dura para sempre.
Isso é que consegue torná-lo tão terrível,
pois sabemos que a qualquer momento pode acabar
ou vamos, sem querer, esbarrar na porta de saída.
Porém, dia após dia, esse dia não chega
e o crepúsculo que se repete vira tortura,
tatuando no céu lembranças e reflexos,
contidas premonições, relances rapidamente consumidos
sem incorporar égide ou epígrafe,
ambas frutos inequívocos, embora ambíguos, da inteligência,
filhos da mesma árvore, a qual só dá sombra oblíqua ao sol.
O Nirvana e o Limbo são praias longas e perigosas,
com esparsos remansos, mas com muitos e muitos contraplanos,
por onde se perdem as marés, sepultando calamares e carangueijos,
enquanto ostras tostam ao sol impiedoso
Cabe a quem está condenado não se debater tanto e confiar nos augúrios, nas sombras e no vento . . .
O Limbo pode ser até um ditongo, ao invés de um hiato.