Roda

E de tudo o que não se vê eu faço os meus dias,

Do fogo reflete os meus olhos o princípio da luz,

Movimenta minhas mãos o calor que tudo busca ao seu encontro

E de paz e suavidade faz-se o que é alma ao corpo,

Até a força nascida sem onde e sem ruídos,

Do mar à fogueira, da imensidão sem ponto

Ao reino de onde queimam as vontades.

De tudo o que não se vê, a tudo o que se toca,

A água segue a compor seu desejo pelo fogo a amenizar,

O fogo alimenta e cresce numa prece pela água a aliviar.

E no coração de todas as coisas que chegam ao coração

Do meu fogo e da minha água,

O frio a tremer em seu aconchego sonha e pede

Pelas asas imprevisíveis do calor,

O calor no seu vôo incessante a buscar quando em fôlego,

Pede um abrigo frio por um minuto a descansar.

E na casa de todo o frio e de todo o calor,

Repouso e procuro, conhecendo que na pausa dos meus pés

Está ensaiando o movimento a chegar,

E no movimento da marcha contínua está e entrega cansada a se deitar.

E em toda proximidade há muito a se afastar,

E em todo afastamento há tanto a sutilmente se aproximar...

E toda sutileza em mim é nada além da mais empenhada das forças,

E toda fortaleza não é nada que não a total leveza a me guiar,

E como água em fogo e fogo em água,

No reino de todas as minhas coisas,

Nada em si inflama, nada chega a congelar...