Mas eu não sou rasura
Eu nunca estive em branco,
Pra ser rasura,
Meu livro nunca esteve vazio de ti,
Pra que um dia disseste que
Que nele havias rabiscado.
Só se for rabisco
Em cima de rabisco.
Mas eu não sou rasura,
E nem fui rasurada,
Eu sou uma tela inteira
Que um dia te fez de aquarela,
Se houve a mistura que eras,
Foi de tom e de ternura,
Se houve o gesto insano
Não foi o desenho,
Foi a rispidez dos traços,
Dos fugitivos tragos de amargura.
Mas eu não sou rasura
E minhas linhas seguem,
Abstratas, tortas, coloridas, minhas.
Não conheço mais seus desenhos,
Nem seus traços,
E a ti não atribuo mais
Qualquer tom de aquarela,
Agora é folha em branco
A folha que te olha.
Rasurar não vale a pena
Se pode-se quadro inteiro
Do que fora um poema.