Eu queria estar vivo
Te procurei
na brisa da tarde de um dia qualquer,
recente.
O frescor não te mostrou.
Não se mostrou.
O calor
não conferiu aquela sintonia
de antes.
Meu intento naufragou.
Liguei o rádio
buscando alguma pista,
instigar um resquício
livre de malícia.
Apenas uma imagem sonora
que destacasse seu sorriso.
Mas tudo o que eu faço agora
me distancia do que preciso.
A vida pulsa estagnada.
Meu pulso no fio da navalha.
E a repulsa que dá náusea
é atuar em meus dias presentes
quando a intenção falha.
Intento, intenção -
atentado à atenção,
foco.
Desvarios...
Contrastes...
Várias doses de injeção
de desânimo.
Desastres...
Desatinos...
Sinônimos de catástrofes.
Agressivo declínio,
crescente desgaste.
Virar a página
para a próxima em branco.
Todas as cores ficaram no passado,
distantes.
Meus dias de hoje não me satisfazem.
Mas não te quero tanto.
São insuficências recentes
que me levam a querer reencontrar
as lembranças de antes?
Lanço mão das possibilidades infinitas.
Mas não te quero tanto.
Na verdade não te quero.
O que quero é alimento pra vida
que me resta
quando nada dela me interessa.
Brilho nos olhos.
Conforto ao espírito.
Vontade de vontade de sonhar
com o minuto seguinte.
Não lamentar
momentos pretéritos imperfeitos.
Deles apenas sorver o alimento.
Alimento é alívio,
ser grato
em sentido lato e estrito,
coração leve, mente altiva...
que levem à vontade da vontade
de atuar irrestrito.
Brilho nos olhos.
Conforto ao espírito.
Seria isso.
Eu queria estar vivo.
*15/1/22 - 23h59*