Não a verás!
Digo-te:
Não a compreenderás,
Terás medo!
Ela não segue crença alguma
Que não sejam suas.
E cada uma, se desfaz em si mesma.
Uma ameaça à tradição,
À "moral, aos bons costumes",
E principalmente à hipocrisia.
Ela não dirá o que queres ouvir.
Não fará o que esperas,
Não te fará falsas promessas,
Fará promessa alguma.
Não a verás mendigando
Alimento, atenção, Amor.
Encerrou ciclos estéreis,
Deu-se conta da sua voz, sua canção,
Da força de seu punho,
Do poder da sua ternura.
Um Voo à Liberdade, este é seu convite.
Guiada pelo Instinto,
Faz o que tem vontade,
Voa pra onde seu Coração a conduz,
Onde Impermanece.
Não quer agradar, nem ser aceita.
Ela se sabe imperfeita.
Tanto o orgulho, a dor, a Sombra,
Todo segredo vergonhoso que guardasse,
São apenas cinzas...
Suas cicatrizes tecem Compaixão e bravura.
Ama e se reconhece
Nas Estrelas, na Floresta,
Nas Flores, nos Animais.
No Silêncio, nas Águas.
Cavalga ventos, doze direções,
Arde com as labaredas
Dissolve-se na Noite, na Solitude.
Donde vem o seu Poder?
Ela Sente, ela sonha,
Reconhece Sinais.
Daí surge a Clareza
O caminho a seguir.
Sua Forma é mutável,
Sua Vera Natureza,
Selvagem, Indomável.
Ela te olhará nos olhos,
Mas digo-te:
Não a verás!
Não suportarás a verdade,
A intensidade deste Amor.
Contudo, ela sabe.
A Força que apenas flui
De seu Coração, de sua Lótus,
Amplitude de alcance Infinito
Sabe que não é para si.
Sob o manto de cicatrizes,
Não teme mais o vento gelado.
Descalça, conduz seus rebentos
Pelo inverno cortante,
Pelo deserto escaldante,
Pelo solo pedregoso,
Tempestades de areia.
Roga para que se fortaleçam,
Tanto quanto fortaleceu a si.
Segue junto da matilha,
Pontes entre Céu e Terra,
Dos que aspiram pelo Último voo,
Ao Vazio, ao Grande Mistério.