Luz e Escuridão
E se o que pensas ser verdadeiro não for,
O que irás então fazer?
Substituir uma mentira por outra mais convincente?
E se nunca fostes o que supõe quem sejas. Quem podes ser?
Isso vem dos seus pensamentos, seus sonhos e visões
Arrancados de suas reflexões, dicções e indecisões...
Construindo caixões para as almas que deixastes para morrer,
Bebendo absinto em homenagem aos mistérios filosofados,
De tudo que você não deveria nunca deixar ser olvidado.
Não posso continuar desenterrando rosas de meu próprio túmulo,
Os raios faíscam mais uma noite soterrada de tristezas asfixiantes,
E todas as crianças deixaram suas lágrimas nas calçadas, e foram pra casa.
As cidades alvejadas com sangue patriótico tornam-se reconhecidas pelos pés,
Pelas imagens que ocultam os véus da Ilusão,
Pela mágoa que consideras ser tua única amiga...
Alguém dirá: o que foi perdido pode ser encontrado...
Apesar da tua Ira, és apenas mais um pássaro engaiolado;
“É preciso ser criança para se entrar no Reino de Deus”,
Pois só com o coração de criança vemos a vida de cada adeus.
Contudo os Lírios do Campo, em sua infinita sabedoria, cantavam:
_ Pois o divinizado Verbo tem olhos e a tudo vê;
O Verbo tem ouvidos e ouve a eufonia das rimas, das palavras;
O Verbo tem pés e caminha em todas as estradas e corações;
Pois no princípio do poema havia o Verbo
E o Verbo não quer adoradores,
O Verbo não quer discípulos,
O Verbo não quer idolatrias,
O Verbo quer céu, pássaros,
Gestos, cantos, simplicidades,
O Verbo é a vida da própria Vida!
O Sossego não virá para este sonolento corpo cansado de sempre estar cansado,
Última chance para fingir crer no amor e em tudo que ele aparenta ser e abdicar,
Exaustas sinfonias tocam as lágrimas de meus sonhos,
No calvário de ser a si mesmo nesse mundo idealizado,
Onde a beleza de meus versos solitários copula com o Suicídio,
Nesse cintilar anacrônico que leva o nitroso amanhecer à exaustão;
O túmulo que carrega o meu nome costurado em minha sombra,
E transparece em um sonho esfumaçado a pura criança molestada que fui...
Contudo não vou negar a minha dor tão sagrada e prazerosa,
Vagando através das neblinas cristalinas da noite,
Entre os milharais amaldiçoados de almas devastadas,
Que retornam de suas guerras cotidianas com as mentes desfiguradas e amputadas.
Meu rosto tão assustado volta-se para os vultos das ruínas do passado,
Os terrores encobertos da alma e os lares dilacerados,
Eu me tornei no meu próprio fim,
Toda finalidade é uma construção gramatical em si fictícia,
A luz e a escuridão estão em coma irreversível em meu ser,
Enquanto Deus chora a perdição
De sua tenra ovelha cheia de medos e paixão!
E um silêncio anestesiante de medo troveja entre os anjos vívicos do Paraíso,
Pois estamos aqui embaixo, atirando pedras sobre a ponte das Realidades,
Enquanto o Efêmero e a Imortalidade embriagam-se do vinho eucarístico da Amizade.