Alma perdida, pródiga e remida
Os olhos onipresentes com os quais Deus se vê
São os transmutativos olhares nítidos e lúcidos com os quais me vejo a mim próprio:
Interiorizando-me no Exterior do Todo,
Exteriorizando-me no Interior do Nada,
O Sujeito se subjetiva em todos os objetos onde seu próprio ser mergulha,
Mas nem todos os objetos se subjetivam no Sujeito.
O Sujeito se auto-afirma em sua negação sistêmica em alaridos pré-cognitivos,
As Contradições formam a essência da Identidade,
Porém a Essência da Identidade singulariza a biodiversidade das Contradições.
A Vontade expande sua liberdade na Inverdade,
E a Inverdade essencializa as ficções no âmago
Da Forma e do Conteúdo de cada elemento real e irreal,
Jorrando o sangue das substancialidades ontológicas em sinestesias imperceptíveis.
“Bereshit bara Elohim et hashamayim ve'et ha'arets”?
Quando a Doença nos acorda com o cajado de sua cura,
E o Inferno é o tenro, florido e transcendente Paraíso Perdido
De todas as mentes acolhidas no colo materno e afetuoso da Morte,
E a decrépita Vida é estrangulada por suas próprias ilusões paridas,
E os Livros da Ciência se lançaram do cume da Montanha da Incerteza,
E um Cântico regozijante evola-se por entre os desfiladeiros da Angústia,
Ressuscitando a fé no duvidar e questionar a Tudo dos Poetas e Filósofos,
Celebrando a Aniquilação das fontes prismáticas do Éden,
E finalmente o Sagrado beija os pés das entranhas melódicas do Pecado,
E novos Caminhos, novas Portas, novos Oceanos e Ideias florescem e rebentam
Nos desertos congelantes da alma onde ancoram
As raríssimas Mentes deste mundo atrofiado,
E havia uma hermética aurora eufonicamente pulsante
Nos sorrisos das mães que pranteavam a morte de seus filhos
Nas batalhas intermináveis do Cotidiano
Em nossas vias-crúcis proletariamente irregistradas;
Nos Campos imutáveis e inacessíveis de Lírios
Onde a Inocência de nossa Infância corre de braços abertos,
Para que enfim renascêssemos no Fogo vivificante
De nossa autossupressão, semeada na aridez hostil de Humos
De nosso turvo Ser, através de nossas próprias Mãos.
As Cinzas ofuscantes deste mundo im-perfeito
Sussurravam-me um segredo hediondo no sarcófago de minha Sensatez Delirante:
“Comamos, e alegremo-nos.
Pois este meu filho estava morto e reviveu,
Tinha-se perdido, e foi achado.”