SEM MEIAS PALAVRAS
SEM MEIAS PALAVRAS
Debruçados à beira do lago
Todos somos Narciso
Em seu perfeito egoísmo
A cada um vale escolher
Se vale mais o vazio do belo
Ou só o valor do senso estético
Bem, adentramos o universo do intelecto
E então as palavras tem outro peso
Narciso se revigora em ideias
Quanto mais pensamos mais sofismamos
Torcemos os sentidos para convencer
Ao outro de que temos brilho próprio
O poeta, coitado
Distorce a realidade
Em nome da beleza
Ou então, poetando ferozmente
Vocifera contra o outro e o mundo
Sem sequer ter a vergonha
De cumprir apenas um ofício
Em que talvez descubra um dia
Sua cabal inutilidade.