A Virgem Iluminada pela Lua
Esta história de enredo triste
Que aqui irei lhe contar,
É muito mais que um mero delírio
Em uma sombria noite de Luar:
"Certa vez, ao descer uma calma rua,
Eu, consternada e marcada
Ouvi ao longe algo que parecia ser
Uma virgem a sussurrar
Tal som corrompia o clima insano do lugar
E ao adentrar um pouco mais na escuridão
Deparei-me com aquela virgem iluminada pela Lua,
Ajoelhada defronte a um altar
Seus joelhos mergulhados em sangue
E sua face abarrotada de dor
Talvez forçaram-na a erguer a fronte
E encarar-me com aquele inesquecível ardor
Ah! Se bem me lembro,
Foi naquela perversa noite de dezembro
Que assisti dolorosamente aos poucos
O meu insignificante mundo desabar;
Aquele aparente puro olhar mexeu comigo,
Com certeza este viria a ser meu eterno castigo,
Aquela virgem ao surgir em minha vida
Fez-me um estigma que sempre irei carregar
O altar contendo velas de luz bruxuleante
Era envolto por densas brumas agonizantes
As quais contornavam suavemente a virgem
Que continuava a me fitar
Seus inertes olhos de safira
Refletiam distorcidamente minha imagem
E neles pude mirar o que há algum tempo
Minha vida inteira viria a assombrar
Os olhos expressivos libertaram demônios
Há muito tempo enterrados e esquecidos,
E estes perversos fizeram-me lembranças suscitar
E novamente, em meu inferno pessoal mergulhar
Dopada de agonia e naquele transe contida,
Vi minha vida, diante de mim, toda passar,
Antigas decepções e falsas esperanças voltaram à tona,
Nada mais restava-me, a não ser, por um fim esperar
De repente daquele topor despertei e fiquei apavorada:
Ajoelhada em frente ao altar da virgem eu me encontrava!
Agora eu é que ocupava seu lugar,
Meus joelhos sangravam e eu não parava de chorar!
Mas como? O que comigo aconteceu?
Um vazio tomou-me a alma e tudo escureceu
Minha mente girava e de uma coisa apenas eu lembrava:
Os olhos da virgem...
Assustada, levantei-me e corri por proteção,
Olhei ao redor e o mundo já não era o mesmo,
Latentes trevas envolveram-no,
A podridão infernal encontrava-se presente."
Percebo agora que tudo sempre fora assim
Só que esta pútrida corrupção não era notada por mim,
Um pensamento plausível me acometeu:
Não é loucura, toda a esperança morreu!
Percebas que esta terra não passa de ilusão,
A plena felicidade não existe, é ficção!
Saia deste teu lugar de fantasias,
Veja o que lhe é mostrado e recupera a razão!
Pense a respeito deste conto, reflita,
Nada disto é loucura ou simulação,
Não permita que o que aconteceu, repita-se,
Pois se ainda não entendeste, um dia entenderás!
E a propósito...
Lembra-te da virgem ajoelhada e iluminada pela Lua?
Ela não passava de uma mera mendiga
Escondida em um canto da rua!