Nu
Estou nu,
Já não cubro as vergonhas
De rotinas enfadonhas,
Do que se é, do que passou,
Estou nu e não posso negar,
Sou o que sou: o que se ergueu, o que ruiu,
O que a alma almeja, não censuro,
Confessa minha pele o tempo que fluiu,
Escorre pelos poros ainda a gana,
Goteja esperança no futuro.
Estou nu
Olhe nos meus olhos,
Estou vivo, num carrossel,
Não tenho mais como ocultar
O que sinto, o que pressinto,
E o meu instinto
Desce à terra, direto do céu,
Socorre-me no exato instante
Em que insisto
[em raciocinar.
Estou nu
E não me importo,
Tampouco me comporto,
Desisti de encobrir, de calar,
De agradar, de me salvar,
Liberto-me de todo apego,
De toda segurança, abraço o medo,
Delibero deixar meu autodegredo,
Estou livre, enfim,
Só me resta...
Voar!