A vida são gestos e fluires transitórios
O presente nunca é para sempre,
e o eterno está sempre mudando, fluindo e se dissolvendo.
Cada segundo pode ser o último.
E quando tudo passa, morre-se.
Nada é real, quem sabe só o passado,
e mesmo assim já sinto o peso dos séculos a me esmagar.
O momento culminante,
O relâmpago fulgurante
chega, brilha e depois vai embora.
Ninguém quer morrer,
mas o ciclo da decomposição
continua sua rota sem envelhecer.
E todas as minhas mágoas deslizaram através de meus olhos.
Algo azul em um céu nublado,
Sentimentos que se tocam_ tão inocentes
Na fragrância fugaz das flores moribundas;
Algo me golpeou como um talho súbito de faca afiada.
E o sangue diurno do amor,
Com seu longo pesar,
Inundou meu coração,
Então entendi meu desentendimento sobre tudo.
Quando se sente uma necessidade de se precisar de outra alma para se apegar,
De um outro corpo para nos manter aquecidos.
Entregar a alma escondendo a hesitação e o amor...
Os barcos vazios em forma de cisne vagavam de um lado para o outro
No vidro negro da água,
Levando os cadáveres de nossos sonhos,
E não havia mãos para dizer um simples “adeus”.
Arrancar sempre um pedaço de minha vida,
Um fragmento de aflições e de belezas implícitas,
E transformar tudo isso em palavras digitadas ou escritas no papel: "eis minha única felicidade.”
Alguém acredita que eu seja um ser humano e não um nome apenas?
És um feixe de nervos sem identidade?
A solidão vem do fundo indefinido do próprio ser,
Como uma doença no sangue espalhada pelo corpo,
De modo que não se pode localizar a origem de nada,
O ponto de contágio onde a verdade se oculta.
Sozinho em um quarto com os pensamentos a nunca pararem de se confrontar,
Vagando entre dois mundos,
E todos tentam escapar de si mesmos mergulhando em conversas artificiais.
[Só se vence e entende a solidão penetrando cada vez mais fundo nela.
Atravessando corredores de prédios,
Becos com iluminação artificial a zombar de nossos corpos,
Mas a vida é pura solidão?
A vida é um acaso, é uma mera simulação?
Apesar de todos os opiáceos químicos e abstratos,
Apesar do falso brilho das festas alegres sem propósito algum;
Apesar dos falsos semblantes sorridentes que ostentamos...
Quem somos nós?!
E quando se pensa que se encontrou a pessoa em quem se pode abrir a sua alma,
Abraçar quem se ama sem medo e dúvidas,
As palavras pronunciadas tornam-se tão ásperas, feias, desconexas, clichês, enferrujadas,
desprovidas de verdadeiros significados,
Por terem ficado tanto tempo aprisionadas em nosso íntimo.
A consciência da alma, em sua autoconsciência macroscópica,
é sempre angustiante e predominante.
Estamos todos na beira do precipício:
é necessário vigor, coragem, seguir pelas bordas,
olhar para baixo, e encarar a escuridão profunda do abismo que somos,
através da névoa amarelada e fétida o que jaz abaixo das palavras,
na armadura metálica que esconde os pensamentos e seus vômitos,
tentando achar um centro que traga um significado verdadeiro para uma alma à deriva.
Deve-se aprender que nunca se pode aprender nada válido como verdade suprema,
Apenas ditos transitórios, fugazes, que são injetados em nós em certos momentos,
Em sua localidade e em seu estado de espírito atual que imaginas que é teu.
Deve-se aprender que o amor nunca chega pra valer,
Pois quem tu admiras é um fruto inatingível de tua imaginação idealizada;
E nós sabemos que existem milhões de pessoas infelizes e passando fome,
E nossas vidas são um acordo de hábitos para sorrir e adornar o semblante de contentamentos,
A fim de que os outros se sintam culpados por serem fracassados em suas vidas,
E tentam ter fé em algo,
Embora por dentro a grande maioria esteja definhando paulatinamente
pelas amarguras e frustrações;
Deve-se aprender que o que tu admiras
E desejas de alguém é a ausência do que não possuis;
E a guerra do duplo ódio arrebentará as tuas entranhas em nome da luz,
Que deve ser lançada sobre a escura metade da opressão dos mais fracos
(Dos quais fingimos nos importar.)
E o Jogo do Fingimento é infinito em todos os lados!
Para que serve realmente a sua própria vida,
E o que fazer com essa vida que vibra em tuas mãos?
No íntimo, não sabes, e sentes medo, porém o ocultas.
Poder ser todas as pessoas que se quer ser,
Viver todas as vidas que se almeja,
Assim talvez por isso se queira ser todos:
Assim ninguém pode culpá-lo(a)
por você não ser você mesmo.
Senta-te na cama, em teu quarto,
E sinta essa dor pungente em teu corpo,
Travando a garganta e se contraindo perigosamente
No canal lacrimal atrás do olhar.
Você sente “aquela palavra” e “aquele gesto” se contrair dentro de ti,
Mas tudo está magnetizado em tua alma inseparavelmente:
Ressentimentos remoídos, desejos supérfluos, libido gritante,
E tudo isso explode dentro de você,
E a seiva dessa fúria impotente se converte em lágrimas,
Um choro que não é endereçado a algo em particular,
Mas que está abarcando tantas coisas,
E nenhum ombro amigo te amparará,
E aquela voz que busca te consolar dizendo: “Calma, tudo isso vai passar...”
Só fala o que você está exaurido de escutar.
Onde foi parar aquele ser que eras no passado?
O que “aquele ser que foste” pensaria de ti hoje se te visses desse jeito?
Percepções sensoriais e fluxos de consciência espasmódicos revelam tanto sobre o nosso ser,
Um estado de espírito transmutado, nascido da renúncia da complexidade,
Sociedades subjugadas pelo Tempo,
Pela falta de Tempo,
Pela corrida pelo Tempo,
Refugiando-se no não-pensar em sempre estarem fora de si mesmos,
Entre lampejos momentâneos de bem-estar e mal-estar.
Esse narcisismo patológico em querer ver as coisas refletindo suas idiossincrasias em tudo,
Quando na realidade as verdades que crês controlam o teu ser e a tua vida.
Tens que subir à superfície profunda de ti mesmo,
Meio afogado ou extremamente feliz com sua nova personalidade despersonificada.
Esse ridículo animismo fixado até nos fatos,
Personificando o mundo e o universo com esse nada mistificado e mitificado,
Essa vontade tola de querer ser emancipado e importante de qualquer forma...
Alimentando-se de orgulho,
Cultivando a aparência física sempre velada;
Abraçados em pé,
Pernas entrelaçadas, boca contra boca,
E os corpos arfando e ondulando em um atrito inflamável,
Prazer e dor se misturam em uma só essência:
Mergulhar no negro poço ardente do esquecimento provisório?
Perder nesses instantes a identidade verdadeira de si?
Isso nunca foi Amor,
Era uma outra coisa:
Talvez um hedonismo mais refinado.
Beijos são dados e recebidos.
Há beijos dados em crianças pelas mães,
Por apaixonados em suas amadas,
Por homens nas ruas em suas esposas ou amantes.
Cinderelas de todos os tipos e formas.
Um encontro incomensurável dos lábios.
Isso é tudo, animais carentes que somos,
Vazios do calor e da companhia do Autoconhecimento,
Porém afirmo que um beijo é apenas um mero símbolo da adoração mental.
Há só um cansaço, uma vontade de encostar-se
Em um ombro para dormir,
Um par de braços para se aninhar,
E a falta de tantas coisas circulando ao teu redor...
E a noite despenca dos céus,
E se reduz a uma fatia bidimensional do tempo-ceifador,
Esperar por uma chance de amor e segurança interna,
Antes de sentir o pleno impacto de sua própria inseparável solidão.
Desejo místico de chegar à aniquilação sensual,
Desfazendo a identidade na identidade do outro,
A dominação e a subordinação em todo ato sexual,
Um autossacrifício sempre buscando uma autossatisfação.
Tudo é puro egoísmo transliterado com novos verbetes.
A mente humana é tão limitada que só consegue inventar
um paraíso pós-morte arbitrário, e os confortos físicos que lá são inseridos
são ingenuamente dos tipos que podem ser concebidos
conforme a percepção humana sonha: o fluxo eterno da alegria e da felicidade,
E a supressão de todo tipo de dor e sofrimentos.
Patéticos somos nós em tudo.
Negro é o sono, negro é o desmaio, a morte, sem luz, sem despertar.
E eu sangro por todos os indivíduos nos campos de batalha que pensaram:
“Eu sei que estarei num lugar melhor, cumpri meu papel, sacrifiquei o melhor de mim...”
A vida é um gesto rápido,
Um fluir contínuo,
Tudo num ciclo sem sentido!
O vento soprou luas amarelas por cima do mar,
Uma prece sincera do céu bucólico estava a brotar,
Derramando pétalas dessas luzes mornas e claras.
A Vida ainda pulsa alentos de nossas almas rotas e raras.