O CEMITÉRIO DE CAETÉ, MG
O CEMITÉRIO DE CAETÉ
[1ª versão]
No cemitério de Caeté
seus moradores estão em silêncio.
Silenciados pela morte, talvez conversassem
até eu chegar ali.
Fui atrapalhar suas conversas,
a intimidade da comunidade,
criada por eles.
Olhos invisíveis me observam.
Talvez queiram me falar
do abandono em que vivem,
esquecidos que estão pelo tempo.
Silêncio na capela barroca;
silêncio no cemitério;
silêncio dos homens.
Os mais simples convivem com os ricos
que se enriqueceram com ouro e diamantes
ou eram sórdidos políticos
- ou impiedosos senhores de escravos.
Uma música que ninguém ouve
invade os meus ouvidos.
Homens prisioneiros da morte,
prisioneiros do século XVII e XVIII,
angustiados, e me pedem missa
que possa acalentar suas almas nebulosas.
O Barroco sobrevive nas lápides frias,
com seu sofrimento,
com suas antíteses sombrias.
Morrer é dormir sono profundo,
é silenciar-se;
é viver o indecifrável silêncio
dos cemitérios.
NELSON MARZULLO TANGERINI
Caeté, MG, 2002.