O CEMITÉRIO DE CAETÉ, MG

O CEMITÉRIO DE CAETÉ

[1ª versão]

No cemitério de Caeté

seus moradores estão em silêncio.

Silenciados pela morte, talvez conversassem

até eu chegar ali.

Fui atrapalhar suas conversas,

a intimidade da comunidade,

criada por eles.

Olhos invisíveis me observam.

Talvez queiram me falar

do abandono em que vivem,

esquecidos que estão pelo tempo.

Silêncio na capela barroca;

silêncio no cemitério;

silêncio dos homens.

Os mais simples convivem com os ricos

que se enriqueceram com ouro e diamantes

ou eram sórdidos políticos

- ou impiedosos senhores de escravos.

Uma música que ninguém ouve

invade os meus ouvidos.

Homens prisioneiros da morte,

prisioneiros do século XVII e XVIII,

angustiados, e me pedem missa

que possa acalentar suas almas nebulosas.

O Barroco sobrevive nas lápides frias,

com seu sofrimento,

com suas antíteses sombrias.

Morrer é dormir sono profundo,

é silenciar-se;

é viver o indecifrável silêncio

dos cemitérios.

NELSON MARZULLO TANGERINI

Caeté, MG, 2002.

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 29/10/2021
Reeditado em 29/10/2021
Código do texto: T7374445
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