Quero um cavalo negro
Quero um cavalo negro
Não por opulência
Ou por ser extravagante
Quero ouvir-me galopante
Entre aqueles que não morrem
Por mais campos que atravesse
Sei que o preto não se cansa
E ele vai, e ele avança
E tudo perde cor atrás dele
Passe pelo mar vermelho
Que este vira um lago de breu
E parece que cai o céu
Aos pedaços sobre a terra
Ouçam as nuvens como gritam
Quando se partem a meio
É sinal de que ele veio
O cavalo que eu tanto quero
E vejam como elas choram da fratura
Para a qual nem Esculápio tem cura
Ouçam bem os meus galopes
E escutem a melodia
Do meu cavalo negro
Que cavalgando o caminho dos peregrinos
Pisa o sangue dos paladinos
Estala os ossos e os dentes
Dos mortos nada quentes
Monte de assassinos!
De filhos, almas e amores
Que causam amargas dores
Mas ideias! Elas não morrem
Nem dos cavalheiros correm
Nem precisam...
Qual cavalo, qual carroça
Qual rei que dela troça
Mate o rei quantos quiser
A ideia ele não fere
A espada não atravessa
E a flecha não perfura
Aquilo que para sempre perdura
O meu cavalo negro