Faces

Pois nasci e nunca vi amor

De meu berço em que uma voz jazia

Sentia frio, o calor sem cor

Não fui de ninguém, prelazia

E tenho a face do rancor

E tenho a face do amor

Pois cresci e nunca vi ardor

Alimentando uma alma que nada sentia

Choro, lágrima e temor

Todo sentimento que me permitia

E tenho a face do rubor

E tenho a face do torpor

Pois morri e nunca senti dor

Porque não havia cor pra ver

Um olho cego de horror

E nenhum céu para recorrer

E tenho a face da dor

E tenho a face do senhor

Pois pintei o quadro que quis

Desenhando um futuro meu

Um sonho alienado, céu azul matiz

Fé do cristão, força do ateu

E tenho o olhar do observador

E tenho o pincel do pintor