Nada somos, mas podemos ser!
Não somos mais do que preces e rezas ajoelhadas
Castas entre tantos momentos de sentenças
Ou apenas tristes inclinações de nossos pecados;
Somos flores apenas: silêncios de moradas
Onde o jardim dos nossos temores se perdeu!
Somos grotescos, filhos dos lírios abandonados,
Somos girassóis que o ventou feriu e enlouqueceu,
E assim vivemos como justificados bastardos.
Sonhamos com o bem que há tempos escureceu,
Não, não voltemos ainda o olhar à antiga sepultura,
À casa que entre risos e brumas cada um se perdeu,
Todavia, sobe aquém e além da lenta e agorenta altura,
Onde em sangue cada juramento ou amor se converteu.
Ainda assim, sejamos como sempre são os rochedos,
Serenos e reflexivos ao calor da febre insuspeitada,
Couraça e escudo que sejam erguidos contra os abismos
Desta vida tão vesana, voraz e sistematicamente violada;
Nada somos, mas podemos ser as pedras de nossa estrada!
Acaraú, 07 de maio de 2021