FIAT LUX- POEMA GNÓSTICO
 
Maestra-Árvore foi quem ensinou ao meu coração,
O ofício que aprendeu com o Deus Mestre Artesão.
De dia capturar a luz, para dela tirar o combustível,
E como abelha, fabricar maciços blocos de energia,

(Construtores que somos do universo inconcebível).
No tempo e no espaço essa função é que nos guia.
 
Meu coração aprende com a imperceptível transição
Da pedra imóvel na sua lenta e segura transformação.
Nela, o espírito do universo despeja energia prânica
Com a qual, tudo que no início era só matéria bruta,
Consiga, um dia, transmutar-se em matéria orgânica.
Porque é a gênese da vida que se realiza nessa labuta.
 
Meu coração aprende com a libélula, na efemeridade,
E com o majestoso carvalho na sua quase eternalidade;
Da primeira adquiro prudência, do segundo paciência,
Sacerdotisas vestais que sempre me dão bom conselho;
E com a humildade dos que cavalgam a luz da ciência
O meu coração amadurece e faz a travessia do espelho.
 
Meu coração engravidou e aprendeu incubando a vida,
Nesse exercício simples de potência magna adquirida.
Nele, a natureza nua, diáfana, virgem donzela mineral,
Observa um mítico pássaro chocando o cósmico ovo,
E no silêncio o buraco negro cuspindo a estrela seminal.

Que também é a mônada que contém o velho e o novo.
 
É assim que meu coração galga os degraus da evolução,
E vai desvendado a fórmula do universo em construção.
Feito Demiurgo, também conjuga o Verbo Fundamental

Para nele acrescentar seu próprio vetor de continuidade.
Como prêmio, o Principio Único lhe concede o seu aval
E a tudo que não tem nome ele confere uma identidade.
 
Espionando a Natureza, assim o meu coração aprendeu

Como ela usa todos os dons que de graça Deus lhe deu.
Tal menino curioso, espiando pelo buraco da fechadura,
Ele flagrou sua própria Mãe se despindo para o Amor.
Como escravo rebelde que rompe as trancas da clausura,

Meu coração hoje é cúmplice do Demiurgo construtor.