O Penúltimo Silêncio

Que silêncio incompleto entre tantos clamores!

Agora é só agora, eles tentam nos dizer

Que amaram e esqueceram, sempre ficando longe

Da verdade final. O amor é uma dívida

Inesgotável contraída na escuridão,

E só a morte libera os endividados relapsos.

Tudo terminará num oceano de esquecimentos,

Todos nós estamos perdidos, literalmente.

Os mortos também acabam, após tantas lágrimas

E missas cantadas e anúncios pela internet.

Nascemos para nos evaporar, após ter sido

A água que cobre a rampa do estaleiro.

Nascemos para dizer o nosso nome ao vento.

Nossos corpos rastejaram até a entrada da igreja,

Mas onde estava Deus naquele instante de dor e oração?

Existem felicidade e eternidade no outro lado da fronteira da morte?

O outro lado da morte e da vida é aqui mesmo, nesta vala imunda!

O outro lado do rio é onde sempre estamos,

Mirando a água arrastar o vômito das chuvas.

E só em sonho tornamos a ouvir o grito do trem,

Que atravessa as estações com sua fumaça e desgraças.

Apenas no momento de nascer é que renascemos.

Nossa ressurreição está no começo, no instante inicial

Do primeiro choro em que descobrimos a luz do mundo.

Tivemos a vida inteira para justificar a nossa vinda,

Mas desperdiçamos cada oportunidade, pois nada sabemos!

Agora, não há como fugir! A noite enfim cai em nós,

A noite vem do céu e usurpa finalmente a nossa voz.

Não ficou nem no chão, nem nas casas, nem nos trejeitos

Aquele Penúltimo Silêncio de Amor que precede o último beijo!

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 23/02/2021
Reeditado em 23/02/2021
Código do texto: T7191125
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.