O Penúltimo Silêncio
Que silêncio incompleto entre tantos clamores!
Agora é só agora, eles tentam nos dizer
Que amaram e esqueceram, sempre ficando longe
Da verdade final. O amor é uma dívida
Inesgotável contraída na escuridão,
E só a morte libera os endividados relapsos.
Tudo terminará num oceano de esquecimentos,
Todos nós estamos perdidos, literalmente.
Os mortos também acabam, após tantas lágrimas
E missas cantadas e anúncios pela internet.
Nascemos para nos evaporar, após ter sido
A água que cobre a rampa do estaleiro.
Nascemos para dizer o nosso nome ao vento.
Nossos corpos rastejaram até a entrada da igreja,
Mas onde estava Deus naquele instante de dor e oração?
Existem felicidade e eternidade no outro lado da fronteira da morte?
O outro lado da morte e da vida é aqui mesmo, nesta vala imunda!
O outro lado do rio é onde sempre estamos,
Mirando a água arrastar o vômito das chuvas.
E só em sonho tornamos a ouvir o grito do trem,
Que atravessa as estações com sua fumaça e desgraças.
Apenas no momento de nascer é que renascemos.
Nossa ressurreição está no começo, no instante inicial
Do primeiro choro em que descobrimos a luz do mundo.
Tivemos a vida inteira para justificar a nossa vinda,
Mas desperdiçamos cada oportunidade, pois nada sabemos!
Agora, não há como fugir! A noite enfim cai em nós,
A noite vem do céu e usurpa finalmente a nossa voz.
Não ficou nem no chão, nem nas casas, nem nos trejeitos
Aquele Penúltimo Silêncio de Amor que precede o último beijo!