BORBOLETA NO MANGUEIRÃO
Abra o fole de tuas asas
negro-vermelhas
dulcíssima borboleta;
nelas, cada veio seco
suspende meus ares
Seriam patas esses longos cílios
ou aéreos pêndulos apenas finos?
Voe sobre o jardim cercado
amplo mangueirão, átrio de barro
que se abre largo para porcos
e homens em dura redenção
Teu pouso inesperado
fere casulos
e torna irmão toda criatura
Arma teu fole vivo
de cor ressurreta,
não respiro indeciso
e nesta antessala espero
do ruflar de tuas asas
o compasso que nos eleve
*
Baltazar Gonçalves
do livro Tecido na papelaria, Penalux 2019