Desinteressadamente
o desinteresse produz sonolência
um desligar aos poucos que me entontece
que me puxa para uma zona de confluência
como se a carne começasse a ser líquida
e as veias vomitassem o suor de uma prece
o desmanchar das ideias é lento e sinuoso
como um velho rio inerte entre montanhas amargas
que lutam para se manter firmes e povoadas
ao ocaso pertence a minha súplica final
agonizante e bloqueada por miríades de estrelas
quero adormecer sem ter de recordá-las
como cardumes de prata que lutam na madrugada
sou apenas um músculo dentro de um só olho
vejo sombras que respiram em acordes finais
ouço o murmúrio das nuvens escuras e roucas
que gargalham ao longe e riem de mim
não quero desligar-me sem o consentimento da aurora
lutei muito com o tempo por esse mundo afora
sou uma gárgula extasiada que regurgita o confim
prefiro morrer do que ausentar-me aos poucos assim