Desinteressadamente

o desinteresse produz sonolência

um desligar aos poucos que me entontece

que me puxa para uma zona de confluência

como se a carne começasse a ser líquida

e as veias vomitassem o suor de uma prece

o desmanchar das ideias é lento e sinuoso

como um velho rio inerte entre montanhas amargas

que lutam para se manter firmes e povoadas

ao ocaso pertence a minha súplica final

agonizante e bloqueada por miríades de estrelas

quero adormecer sem ter de recordá-las

como cardumes de prata que lutam na madrugada

sou apenas um músculo dentro de um só olho

vejo sombras que respiram em acordes finais

ouço o murmúrio das nuvens escuras e roucas

que gargalham ao longe e riem de mim

não quero desligar-me sem o consentimento da aurora

lutei muito com o tempo por esse mundo afora

sou uma gárgula extasiada que regurgita o confim

prefiro morrer do que ausentar-me aos poucos assim

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 02/02/2021
Reeditado em 25/04/2022
Código do texto: T7174952
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