Quereres
Quero um verso vermelho com veias, vênulas e capilares
Quero um pulmão de teias trêmulas de muitos ares
Quero um pavão de penas plenas da claridade
Quero um cartão de letras lentas e sem vaidade
Quero a fonte da fossa, bossa de me caçar
Quero a canção mais mansa, dança de descansar
Quero o mar cor-de-rosa, prosa primaveril
Quero o sofá mais frouxo, roxo ou azul-anil
Quero a palavra certa feito flecha de cunhã
Quero a felicidade simples qual fé na manhã
Quero todas as cordas da lira antiga de meus poetas
Quero os acordes delirantes das novas dos profetas
Quero mais de mil quereres
Mesmo que neles
Não habite prazer.
Mesmo que dentre dores
Que todas as cores
Do negro eu possa ver.