Sombras de sonhos
Sim, o que não é sonho nesta vida,
Para quem não se liberta do passado?
E o que vale a vida se não o êxtase criado
Do minuto em que se ouve a estranha voz
De um alto olhar descendo sobre nós?
Ó! A percepção dos mundos invisíveis,
Aura, vertigens das almas prisioneiras e insensíveis
Às formas que fenecem_ oásis dos videntes,
Deserto onde o amor se desfaz violentamente.
Vem! Espalha sobre mim o teu eterno fluido
E o ópio da tua nostalgia. Poente lânguido,
me livra das brancas sepulturas das cidades
Onde os homens arrastam sinistras amabilidades.
Quando o relógio fixar a hora extrema do não-sentir,
Abre as portas que vedam teus domínios selados,
Rompe o cadeado do castigo e deixa-me partir
Para o país dos jardins perdidos e alucinados.
Cinza dos meus dias_ ó longa agônica espera
À margem destas ânsias sufocadas,
Desejo ébrio que não adormece estas minhas feras!
Não quero do sol que morre sobre as pedras
Criar a minha sozinha soma do infinito!
Quero derramar-me em cálices de gritos,
Quero sofrer além das tribos da esperança,
De frente aos mistérios em todas as andanças,
Sentindo que a poesia, voz do inaudito sonho,
É a memória daquele outro mundo dantes risonho!