MEU BARCO FORTE
«Réplica ao “barco em ruínas” de José Félix»
“… O meu apetite são as palavras
E não o seu arquivo” disse o poeta
Considerando-as livres, mas escravas…
Replico eu, duma forma concreta
Na minha condição de «barco forte»,
A este Arquivo de tão frágil porte.
Arquivo? Certamente, ativo e vivo
Revelando-se um destacado Abrigo,
Em qu´ as palavras tenham incentivo
E se protejam do seu inimigo,
Quais os agrestes e funestos ventos
Provocadores de áridos tormentos…
Palavras são, do poeta, pergaminho
Qu´ urge drasticamente preservar
Para qu´ elas não percam seu caminho
E possam o alvo ansiado alcançar.
A Viagem é bem longa e temerosa
Mas, com paixão, há-de ser auspiciosa.
Eu, poeta – semeador me confesso
Nesta Viagem dura e estimulante –
Quero partir e, sem pensar em preço,
Procurarei os frutos mais adiante…
Meu barco forte, a Nau da Poesia,
Tem esperança qu´ há-de chegar um dia.
“Barco em ruínas” esse nunca o serei –
Mesmo sabendo que todo o mar é bravo –
E as Palavras que eu transportarei
Delas jamais me considero escravo…
Antes, porém, irmão gémeo frugal
Intentando buscar o meu Graal.
De todo o poeta este é o belo Sonho,
Porventura com algum nevoeiro,
Urge, desta arte, ser Barco risonho
Que vai à proa, ousado timoneiro.
A alma rija habilita ao forte leme
E, frente ao medo, o Poeta nunca treme.
Meu barco forte, caravela d´ arrepio,
Navega contra os ventos e marés
E não receia o perene desafio
Das sete voltas da vida, de lés-a-lés…
Na mão o cálamo, no coração a chama,
Esta ousada Poesia me reclama!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA