MEU BARCO FORTE

«Réplica ao “barco em ruínas” de José Félix»

“… O meu apetite são as palavras

E não o seu arquivo” disse o poeta

Considerando-as livres, mas escravas…

Replico eu, duma forma concreta

Na minha condição de «barco forte»,

A este Arquivo de tão frágil porte.

Arquivo? Certamente, ativo e vivo

Revelando-se um destacado Abrigo,

Em qu´ as palavras tenham incentivo

E se protejam do seu inimigo,

Quais os agrestes e funestos ventos

Provocadores de áridos tormentos…

Palavras são, do poeta, pergaminho

Qu´ urge drasticamente preservar

Para qu´ elas não percam seu caminho

E possam o alvo ansiado alcançar.

A Viagem é bem longa e temerosa

Mas, com paixão, há-de ser auspiciosa.

Eu, poeta – semeador me confesso

Nesta Viagem dura e estimulante –

Quero partir e, sem pensar em preço,

Procurarei os frutos mais adiante…

Meu barco forte, a Nau da Poesia,

Tem esperança qu´ há-de chegar um dia.

“Barco em ruínas” esse nunca o serei –

Mesmo sabendo que todo o mar é bravo –

E as Palavras que eu transportarei

Delas jamais me considero escravo…

Antes, porém, irmão gémeo frugal

Intentando buscar o meu Graal.

De todo o poeta este é o belo Sonho,

Porventura com algum nevoeiro,

Urge, desta arte, ser Barco risonho

Que vai à proa, ousado timoneiro.

A alma rija habilita ao forte leme

E, frente ao medo, o Poeta nunca treme.

Meu barco forte, caravela d´ arrepio,

Navega contra os ventos e marés

E não receia o perene desafio

Das sete voltas da vida, de lés-a-lés…

Na mão o cálamo, no coração a chama,

Esta ousada Poesia me reclama!

Frassino Machado

In RODA-VIVA POESIA

FRASSINO MACHADO
Enviado por FRASSINO MACHADO em 14/10/2020
Reeditado em 23/02/2022
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