SONHO DE INOCÊNCIA

Quem me dera ter o prazer inesgotável de sentir

Todos os dias o doce e límpido gosto da inocência

E não mais ser ferido pelas malicias de um ato de mentir

E tampouco ver os prejuízos diários da malevolência!

Quem me dera ser um sonho realizado de amor

Que desconhece o caos do mundo moderno

E viver uma alegria primaveril sem temor

De perder o paraíso da inocência de reinado eterno!

Quem me dera viver como uma despreocupada criança

Que como um anjo conhece bem a verdade da pureza,

Sem explicar o que é essa bem-aventurança,

Mas em lindos gestos saber irradiar essa doce beleza!

Quem me dera morar no som singelo dos rios pequenos,

No perfume extasiante das flores,

No cântico dos pássaros, de cujo ecoar sereno,

Enche os céus azuis, sem sinais de temores!

Mas eis que surge, como consolo, a poesia no coração

Para justamente dar esse sabor de leveza

Pela força poderosa da imaginação

Que recria um mundo idílico de total benevolência.

Quando estou sedento, busco mais uma vez beber

Da taça da poesia a sua água refrescante

E com isso preencho o meu ser

Dessa alegria inesperada e edificante.

É o poeta, esse amante do inaudito, quem sabe voar

Sem ter medo de se perder

Numa vida que busca significar

O que hoje está de muitas consciências a se evanescer!