Escorre o tempo na ampulheta
a areia ruidosa esvai
e a vida escorre em canaletas,
em telhados, em palavras, em expressões
repetidas e reverberadas na
caixa craniana, nos corredores escuros
E ao fim, o que esperamos é a luz.
A sinapse iluminada da ideia
A sinapse dourada da invenção
A palavra silente presente nos olhos
A semântica pulsante do corpo
Os signos que bailam despojados
de roupas ou insígnias
Escorre o tempo sobre as pálpebras
sobre olhos embaçados
sobre a boca ressecada
sobre palavras desidratadas
sobre sílabas sincopadas
na dor de consciência.
Escorre o tempo sobre
paradoxos.
Sobre escolhas enigmáticas
Sobre a moral despida
de bom senso.
Escorre o tempo sobre
metáforas
Pecam-se em metáforas.
Autistas, esquizofrênicos,
retardados em geral.
Imperdoável nomeá-los
Mas, eles existem.
São humanos, humanizáveis
e perecíveis.
Escorre o tempo sobre a lágrima
Da mágoa esquecida
Da insanidade súbita.
Escorre sobre os cavalos
e corrói ferraduras
e lembranças.
O subtraído da memória
subsiste nos diários de
sentimentos arquivados
no inconsciente.
Nada é apagado.
Nem pela morte.
Nem pela sublimação
da alma.