Oferenda

Eu me dou para a Vida

Mesmo no corpo

Sucateado

E a história

Parte dela contada

Eu me dou para a vida

Mesmo no corpo

Com as pernas lentas

Os pés

Semi-dormentes

Eu me dou para a vida

Mesmo que a lógica

Aquietou

Porque ainda não achou jeito a dar

Para o mundo

Eu me dou para a vida

Mesmo que o que tenho

É somente

Eu

As palavras

E os versos em prosa que emito

Levando ao exaurimento da dor

E a renovação dos votos

A rendição à existência

Ofereço-me

A ela

Despudoradamente

Mesmo que o corpo que habito

Não funciona na perfeição

Como quando do meu nascimento

Eu me dou

Para mim mesma

Como oferenda

À razão que uso

Como instrumento

Na câmara secreta do meu ser

Eu me dou de presente

No veladouro de mim mesma

Essência ígnea

Sem véu

Tudo que tenho

Como sendo

Eu e o mundo

Aquilo que me acompanhará

Como testemunha de mim mesma

No último suspiro

Prova e contraprova

De tudo que fui

De palhaça e juíza

Sábia e ingênua

Personagem e platéia

Indemonstrável

Intransferível

Inalienável

Incomunicável

Somente meu

Aquilo que excede

Meus fracassos

E sucessos

Do que o outro

Diz eu ser

Em lucros e perdas

Vitórias e derrotas

Segredos e fofoquices

Verdades e mentiras

Que carrego

Degustação de uma nota

Só, luminosa

Nem o Dó, muito menos as demais

Nem o que vem depois da última escala musical

Vivo a execução da música

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 02/06/2020
Código do texto: T6965561
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