Sidarta

(Milton Pires)

Eu amo, a essas hora da noite,

aquele rápido momento em que

sou e não sou mais..em que me

toma o sono aliviando-me da

desgraça da consciência, dessa

que é toda a grandeza e nossa

miséria...nossa terna e infame

luta entre o nunca ter sido e o

já deixar de ser...numa trégua

de Benedetti que só encontra

alívio no amor...

(I will go gently into the

the kindness of the nigth,

for it is not up to me to rage

against the dying of the

light...)

Quando o que me toma é sono,

sinto como se o alívio da morte

se aproximasse de mim, daquela

que é morte e que não me pode

assustar assim ao trazer consigo

certeza de um novo acordar e ao

mesmo tempo o horror do Ser, da

velha rotina, da crueldade da vida-latrina,

impressão de tempo eterno, que se faz

um só repetindo num ontem e novo

amanhã a minha roda tibetana das dores,

os alívios das novas paixões, das novas

lutas e decepções, que me criam a ilusão

do “agora”, que me convencem que o

tempo existe, que tudo é novo no

mundo, que eu não sou mais o

mesmo, que nada mais é igual

a mim...

Tudo em mim se desvanece,

minha consciência me deixa

aos poucos na anestesia que

me alivia do “Ter”....Eu

morro todas as noites..

Amanhã vou renascer…

Porto Alegre, 28 de maio de 2020.

cardiopires
Enviado por cardiopires em 30/05/2020
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