Um canto de incautos
No verão as folhas brilhavam no jardim
O Rio se enchia com o Sol
E o Sol se enchia com o Rio
Suas flores cegariam homens como nós, já cegos.
No canto matinal dos pássaros
Vozes profundas
Incompreensíveis, inacessíveis a nós
Um Rio corria do norte para o sul
E enchia as árvores com luz
Alguns navegavam puxados pela corrente
Até naufragarem com o canto da serpente
Então veio o inverno
Que escondia nos seus termos
Lugares ermos
Corríamos pelas pastagens sem gado
Sem ovelhas e sem Lago
Bebíamos de uma fonte suja
Enquanto éramos observados pela coruja
A água tinha gosto de lodo
E a fonte era guardada pelo lobo, vivíamos
Na perpétua busca do temporário
Na constante instanciação do variável
Tempo entre os múltiplos tempos
O tempo do sem tempo é sempre o presente
Presente que dirige o passado
Presente que corrói o futuro
Presente que se ausenta da presença atemporal
As vagas encontram as dragas
E as giram com se fossem palhas.
Sobre a lua minguante
De olhar recalcitrante
Os raios refulgem na proa
E se escondem na popa
Mas ambas estão obscuras
Haverá uma primavera