Amanhecer
Quando um novo dia recomeça
A noite lentamente se desvanece
A inefável lassidão do tempo
Imprecisão do transcurso da hora
sou uma fração de mim mesmo
Sob o suave abraço dos lençóis
O conforto das sombras na escuridão
A inexatidão da minha própria existência
Enquanto a luz da manhã ultrapassa
desafiadora todas as frestas da janela
como facas bem precisas e afiadas
Cortando o escuro do quarto
enquanto sangra a escuridão da noite
Quisera resistir sob os cobertores
aos estertores do frio da madrugada
ao alvoroço do torvelinho matutino
aos sons que ora invadem os ouvidos
ao barulho insistente dos carros lá fora
ao relógio a tiquetaquear a hora
ao vozerio dentro de minha cabeça
à urgência dos próximos instantes
os segundos que já me atropelam
à dessincronia da mente que se acelera
num ponto noutro instante
menos no agora