Ávidos

tenho visto sórdidos trejeitos

afeitos e nus na prática decente

mentirosos contumazes e atentos

na sociedade doente sem semente

cicatrizes e meretrizes nos leitos

escorreitos que exalam a perfume

ode ao canibalismo cru e visceral

adubo com cheiro forte a estrume

que nos rega a carne nos rodízios

óleo que escorre do nosso animal

para outro animal já ressequido

fel que guarda a essência do mal

sempre pronto a engolir contido

dinheiro que nos mostra ser fatal

transformar uma natureza em cal

se nos deixarmos um dia abater

morrer vai ser um sonho delirante

radiantes e sós por esse turbilhão

cometeremos loucuras para ter pão

ávidos por um presente esfuziante

seremos carcaças podres e frias

cobertas de moscas e de orgias

as putas serão as nossas deusas

coitadas e exaltadas nas alegrias

à vida daremos o último suspiro

um longo pesado e eterno adeus

continuaremos a rir na batalha

e mataremos em nome de deus

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 22/10/2019
Código do texto: T6776287
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