As hienas
ouço ao longe o riso das hienas
que se aproximam em grupos
e corpos preparados para trucidar
bocas fétidas negras e obscenas
erguidas pelas patas dianteiras
que sacodem o instinto de matar
covardemente tentam cercar-me
conheço-as de ocasiões certeiras
feitas de migalhas do meu jantar
já sei que não devo mostrar temor
pela procura ávida do meu sangue
sou eu quem devo atacá-las primeiro
ou despistá-las para sempre ao luar
num gesto bravo e atento com ardor
elas não resistem à tortura do mangue
sangue misturado nas areias sem cheiro
esfarrapadas pela sede e pela fome
perdem-me rapidamente nesse terreiro
em risos vis de escárnio e fingimento
sigo agora o caminho muito atento
apenas aos homens que cruzem a estrada
das pobres hienas esfomeadas sou vento
que leva para longe o som do seu lamento