A viagem
O barco está cheio
Não tem onde armar a rede
Todos querem fazer a viagem
Os melhores lugares já foram ocupados.
Os estivadores não param
De trazer vultos enormes
Para dentro do barco.
Busco um canto para
Armar minha rede.
Todos se espremem,
Uns contra os outros.
Como Jonas, eu desço ao porão
Me acomodo em meu canto
E torço pra que a sorte
Não caia sobre mim.
Em meio às trevas
O barco desliza sobre
As águas do rio.
Todos confiam suas vidas
Nas mãos do timoneiro
Ou esquecem que tem um.
O ruído do motor não me incomoda.
Os monstros lá fora não me assustam
Os que carrego por dentro
São mais aterrorizantes.
Continuo minha viagem
Pelo rio da vida.
Mas estou sempre atento
Neste rio, muitos já se afogaram.