ANJO SEM ASAS (as três da madrugada)

Eram três da madrugada e nos corredores das lembranças,

Um volume na mente ficava latente com os gritos das crianças,

Era a loucura puxando minha coberta,

Para o frio assolar a pele descoberta,

Com a garganta seca procurei em um copo d’água a sanidade,

Aquela que poderia me conduzir à posteridade,

Mas tudo parecia ainda um caos sem fim,

Como se o anjo estivesse voando dentro de mim,

Contra os ventos dos maus, decepando as asas e secando o sangue carmim,

Eram três da madrugada e eu estava me equilibrando sobre uma linha,

Tentando acomodar em meu colchão a velha espinha,

Estou gritando como uma pantera encurralada,

Para não despertar amanhã como uma pessoa mal humorada,

Esvaziando os delírios de minha velha morada,

Para que meu sorriso tenha o mesmo efeito da rosa,

Que o rapaz entrega a sua namorada,

Porque o mundo está escurecendo,

E talvez não haja tempo de salvar,

As asas desse anjo que o vento começou a quebrar,

De repente esse seja o sentido de tudo,

Que não tenhamos que manter a sanidade,

Mas que tenhamos esperança,

Que teremos mais uma noite,

Onde poderemos sonhar,

Ate que a luz ilumine o anoitecer,

E o anjo possa renascer,

E o anjo possa permanecer,

Com suas asas intactas,

Sem gritos de crianças,

As três da madrugada,

Mas com uma alma bem amada,

Que despedaça o ódio do mundo,

Em sua insistência descontrolada,

Em não parar de acreditar,

Mesmo que o anjo esteja sem asas ainda,

Ouvindo gritos de crianças as três da madrugada.