No divã

No meu lado direito dentro do quarto

Num quarto de hora do meu sonho

Um menino quase adolescente efervescia

Enquanto me olhava com olhos banhados de medo.

Era todo desespero e sem nada falar

Apontava para um velho carcomido

Que arrumava uns discos dos Beatles

Num velho móvel envidraçado.

O velho enrugado e maltrapilho

Maldizia a própria sorte e seu destino

Tentava abraçar o menino

Querendo partilhar algum cansaço.

Parecia que na sua fantasia aguardava uma luz

Um gozo de vida num prêmio de loteria

Um canto na beira do mar, uma choça

Ou talvez, numa rosa, a moça faceira.

E o menino com a boca cerrada

Olhando-me com olhos de pedir

Atirava-se aos meus pés a me travar

Como querendo evitar o velho do porvir.