A milésima primeira variação sobre o tempo

Tempo, qual vocábulo

iguala teu arco e a curva

que para ti apontas

e que em ti apruma

toda a escuma do que some?

E que nome

dar ao abismo entre uma nota e outra

a transparente clave despendida

nesta pauta, nesta sinfonia

em que os ecos se afogam abraçados?

É silêncio o teu nome malogrado

nos meus lábios, no poema escrito pelos mortos

que eu fui - e os que a mim se irmanam

esta folha ressequida em sua época? Esta voz cujos tons me desvanecem

o retrato cujas linhas mais queridas

se encolhem num diálogo de morte

este passo na calçada que se esfuma;

esta nuvem, esta ferida que não sara

pois suspensa está entre o pânico e o soluço;

são essas as pequenas fúrias letras

que eu devo desfiar até que a suma

do que sou encontre o sopro

que desfaz enfim toda pergunta?

Rodrigo C Pereira
Enviado por Rodrigo C Pereira em 29/08/2019
Código do texto: T6732242
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.