A milésima primeira variação sobre o tempo
Tempo, qual vocábulo
iguala teu arco e a curva
que para ti apontas
e que em ti apruma
toda a escuma do que some?
E que nome
dar ao abismo entre uma nota e outra
a transparente clave despendida
nesta pauta, nesta sinfonia
em que os ecos se afogam abraçados?
É silêncio o teu nome malogrado
nos meus lábios, no poema escrito pelos mortos
que eu fui - e os que a mim se irmanam
esta folha ressequida em sua época? Esta voz cujos tons me desvanecem
o retrato cujas linhas mais queridas
se encolhem num diálogo de morte
este passo na calçada que se esfuma;
esta nuvem, esta ferida que não sara
pois suspensa está entre o pânico e o soluço;
são essas as pequenas fúrias letras
que eu devo desfiar até que a suma
do que sou encontre o sopro
que desfaz enfim toda pergunta?