Cephas
Sonhei-me pescador. Trouxe-me o Inefável
um chamado para lançar as redes
sobre os homens e dar-lhes sol.
Fui fiel. Vi o Filho de Deus.
Vendo-o, retardei-lhe o quanto pude
o sacrifício que temo caia no olvido.
Repreendido fui como aos demônios
lançados para desertos de onde vêm tais gritos.
No Tabor, a cruz velou-me os olhos, malgrado
Moisés & Elias ladeassem o Santo. Encanto
Experimentei nas águas que a meus pés recebiam
E afundei-me, pois a fé se fecha
Mesmo para quem possui as chaves.
Lembro-me da espada e da orelha devolvida.
Três vezes O neguei. Melhor se uma pedra
Me fosse amarrada ao pescoço e me lançassem
Ao elemento que me busca sempre.
Sua mão iluminada e ainda ferida
Pescou enfim o pescador. Já não temia a morte
E morri judeu para nascer romano
E morto o romano tornei-me o mundo.
Fui belo e terrível, empunhei a lógica e de novo a espada.
Gregório foi meu nome, e Urbano e também Pio
Fui Constâncio, Leão, João e Paulo; e serei tantos
Pois múltiplo é o Homem e Deus é uno e trino.
A mitra e a coroa, os mantos e a tiara, casulas e anéis
Cobriram-me quando santo ou escandaloso. Pois não vim
Senão para apagar-me sempre – e sempre irei
Contente em ser o selo de meu Rei.