Cephas

Sonhei-me pescador. Trouxe-me o Inefável

um chamado para lançar as redes

sobre os homens e dar-lhes sol.

Fui fiel. Vi o Filho de Deus.

Vendo-o, retardei-lhe o quanto pude

o sacrifício que temo caia no olvido.

Repreendido fui como aos demônios

lançados para desertos de onde vêm tais gritos.

No Tabor, a cruz velou-me os olhos, malgrado

Moisés & Elias ladeassem o Santo. Encanto

Experimentei nas águas que a meus pés recebiam

E afundei-me, pois a fé se fecha

Mesmo para quem possui as chaves.

Lembro-me da espada e da orelha devolvida.

Três vezes O neguei. Melhor se uma pedra

Me fosse amarrada ao pescoço e me lançassem

Ao elemento que me busca sempre.

Sua mão iluminada e ainda ferida

Pescou enfim o pescador. Já não temia a morte

E morri judeu para nascer romano

E morto o romano tornei-me o mundo.

Fui belo e terrível, empunhei a lógica e de novo a espada.

Gregório foi meu nome, e Urbano e também Pio

Fui Constâncio, Leão, João e Paulo; e serei tantos

Pois múltiplo é o Homem e Deus é uno e trino.

A mitra e a coroa, os mantos e a tiara, casulas e anéis

Cobriram-me quando santo ou escandaloso. Pois não vim

Senão para apagar-me sempre – e sempre irei

Contente em ser o selo de meu Rei.

Rodrigo C Pereira
Enviado por Rodrigo C Pereira em 18/08/2019
Reeditado em 18/08/2019
Código do texto: T6723056
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