Lasciate ogni speranza voi ch'entrate

Aqui chegamos ao portal do Inferno.

Entra. Cheia de círculos é nossa pousada

Assim escreveu o poeta. Esta placa?

Sim, a esperança. Nunca a tiveste?

Tanto melhor. Vamos aos quartos.

Sim, iguais aos teus na Terra. Vem à janela

Ali o carro estacionado, o muro com as cercas

Elétricas, é claro. Além deles a varanda da outra casa.

A vizinha que espia tua vergonha

Na noite solitária.

Tudo igual. Já o cantara Dante, mas não

O essencial.

Este resíduo de urina no azulejo.

Um pouco de flatulência

Os filmes infinitos que não consegues ver.

Oh, sim, e as lembranças. Todas elas

As piores, as que alimentaste.

As que se batem na parede

E deixam sua imagem. Podes tocar

Viscosas, não? É uma vantagem

Encontrar nossa tolice

Palpável e compressora, da mais pura

Crueldade que a matéria pode oferecer. Que qualidade!

Certamente estás gostando. Um pouco mais

E veremos os prédios cheios de gente

As avenidas e mais uma vez

Os carros, os carros e as infinitas manhãs de longo tédio.

No inferno o impossível a cada um

É a tarde doce do autoesquecimento.

Rodrigo C Pereira
Enviado por Rodrigo C Pereira em 18/08/2019
Reeditado em 18/08/2019
Código do texto: T6722864
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