Lasciate ogni speranza voi ch'entrate
Aqui chegamos ao portal do Inferno.
Entra. Cheia de círculos é nossa pousada
Assim escreveu o poeta. Esta placa?
Sim, a esperança. Nunca a tiveste?
Tanto melhor. Vamos aos quartos.
Sim, iguais aos teus na Terra. Vem à janela
Ali o carro estacionado, o muro com as cercas
Elétricas, é claro. Além deles a varanda da outra casa.
A vizinha que espia tua vergonha
Na noite solitária.
Tudo igual. Já o cantara Dante, mas não
O essencial.
Este resíduo de urina no azulejo.
Um pouco de flatulência
Os filmes infinitos que não consegues ver.
Oh, sim, e as lembranças. Todas elas
As piores, as que alimentaste.
As que se batem na parede
E deixam sua imagem. Podes tocar
Viscosas, não? É uma vantagem
Encontrar nossa tolice
Palpável e compressora, da mais pura
Crueldade que a matéria pode oferecer. Que qualidade!
Certamente estás gostando. Um pouco mais
E veremos os prédios cheios de gente
As avenidas e mais uma vez
Os carros, os carros e as infinitas manhãs de longo tédio.
No inferno o impossível a cada um
É a tarde doce do autoesquecimento.