A Semente

Um autonomeado fracassado jogado ao chão.

Se escora numa árvore.

Fita o horizonte.

É disposto a render-se à vida.

Perde-se a vista...

No vazio da cegueira.

Sem sonhos.

Sofre...

Um fruto cai da árvore.

Se desfaz em pedaços.

Pensa:

Sou como este fruto estraçalhado ao chão,

não sirvo mais para nada...

Nem alimento a mim mesmo.

Destinado ao banquete dos vermes,

só restará a semente por dentro a cultivar o chão.

Nem isto ofereço!

Defiro deste pela rota cega de por aqui vir.

Disto até o fruto sabe por onde seguir.

Deslizo-me pela terra feito verme.

Me escoro na árvore.

A abraço feito um filho bastardo.

Digo sussurrando:

Sou dono de uma semente infértil.

Jamais cultivada propriamente,

jamais em terras férteis,

jamais regada por sóis e chuvas intensas.

Cultivada às cegas e ao avesso,

sob a luz de um sol negro.

Mas a árvore é mãe.

Subo nela...

Quero paz e proteção.

Subo mais ainda!

Até a copa para ver a imensidão.

Me rege num balanço ao vento.

Sou criança mais que nunca!

Agora consolado, nasço, desço feito fruto maduro.

Me curvo...

A beijo pela raiz.

Sou semente novamente!

Não só por fora, mas por dentro,

a germinar na essência de menino.

04/06/2019