Periscópio

mesmo confinado às profundezas abissais

por vezes lanço mão do meu periscópio

um olho apontado a tantos olhos normais

envoltos por uma cortina no denso ópio

dentro do meu submarino aguardo pelo sol

apesar de não poder senti-lo nem abraçá-lo

sou refém dessa claridade tímida e velada

E estou imerso nas águas sem um farol

qualquer clareza é uma lua dentro de mim

apontada ao espaço de muitas estrelas

quando avisto alguém recolhido assim

apetece-me chamá-lo e acolhê-lo

no frio do meu barco só e desatracado

divido a minha paz com as medusas

e sinto-as rejubilar no meu horizonte

em movimentos esbeltos e educados

às vezes sou apenas como uma concha

bivalve e entreaberta que respira

pressinto cada onda que me atira

ao mar consternado do meu fado

Mongiardim Saraiva
Enviado por Mongiardim Saraiva em 16/04/2019
Reeditado em 30/04/2019
Código do texto: T6625107
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