Periscópio
mesmo confinado às profundezas abissais
por vezes lanço mão do meu periscópio
um olho apontado a tantos olhos normais
envoltos por uma cortina no denso ópio
dentro do meu submarino aguardo pelo sol
apesar de não poder senti-lo nem abraçá-lo
sou refém dessa claridade tímida e velada
E estou imerso nas águas sem um farol
qualquer clareza é uma lua dentro de mim
apontada ao espaço de muitas estrelas
quando avisto alguém recolhido assim
apetece-me chamá-lo e acolhê-lo
no frio do meu barco só e desatracado
divido a minha paz com as medusas
e sinto-as rejubilar no meu horizonte
em movimentos esbeltos e educados
às vezes sou apenas como uma concha
bivalve e entreaberta que respira
pressinto cada onda que me atira
ao mar consternado do meu fado