IDENTIDADE
IDENTIDADE
Quando iniciei-me em Cadernos
Perguntaram-me quem era o 'negrão' da minha família.
Quem era este ser primitivo, avô, avó,
Que poria o seu gen na linhagem à qual eu fazia requerimento.
Entendi isto como um trote escolar
E não respondia a isto até ontem.
A foto de meu pai não convenceria,
Os cabelos de minha mãe certamente.
Hoje eu ando com o retrato colorido de meu avô,
Pai de meu pai, no bolso.
Foto com o neto e também outra, da Carteira de Trabalho;
Anexo rimas que respaldam-se em versos.
Nas mãos levo um mapa de 1859 da região de onde "eles" vieram,
Viveram em Ibertioga, Minas Gerais.
Aponto, orbitando a cidade, os lugarejos assim anotados:
Quilombo, Quilombinho, Bairro de Negros, Creoulos.
Dedilho as colinas e imagino o fluxo destas comunidades
Após os eventos dos termos da abolição;
Ecística, o refluxo em processos migratórios
Para as periferias das cidades maiores.
No leste do mapa vejo a casa de Dumont
E Sítio, onde alçou Cruz e Souza.
Desenho que Cândidos tenham almirantes por apelido.
- Desejos, acalmai-vos.
É natural desta região as festas, as danças, as Congadas e Moçambiques,
Viajo ao continente original pelos nomes que elas evocam.
Volto à carta de navegação e nomeio novos pontos cardeais,
Minha, por herança, uma bússola de ideais.
Agulha, fagulhas no olhar, magnetismo no ar;
Que seja a tese epistolar
Enquanto circulo no mapa dos meus tesouros:
Quilombo, Quilombinho, Bairro de Negros, Creoulos.
- Não era trote ou racismo cultural.
Era a formatura, a colação de grau!