VOVÓ ALESI
VOVÓ ALESI
Tudo era nas Eras, novo
O universo tinha apenas
Apenas 300 mil anos
Insurgi-me H. sapiens
Sapiens/demens arcaico
Meu hexavô ergaster
Pentavô heidelbergensis
Trisavô floresilensis
Bisavô neanderthal.
A oeste do largo Turkana
A tumba de minha remota
Vovozinha: quão humildes
Ancestrais: chimpanzés
Gorilas, orangotangos e
Gibões. Longa história
De aflições. Engatinhava
Na pedra cavernosa
No Palácio do Medo.
Ah mama África
Estiveste tão longe
E de tão longe, hoje
Fazes de mim este
Homem do Leste
Lembro-me agora
Era difícil suportar
O odor de bosta
De teus afagos
Na Costa do Marfim.
Ah, mama D´África
O quanto me doía
Estar ao teu lado
No mar dos sargaços
Sem poder navegar
Sem poder sair do colo
Preso a braços oceânicos
A teus orgasmos ao parir
Ah mama negra do Lácio
Nativa do Himalaia.
Tua laia contemporânea traz
Traz à tona o feminismo de bolsa
À moda fascista teus partos
Teus orgasmos de parir povoam
O mundo de norte a leste
Com sorrisos de vitrine
Manequins de alumínio
Teus papiros biográficos
Tua maçã babilônica
Teus túmulos de conflitos.
Este teu filho não é teu
Ainda que saído da urna
Tua. Nunca desconfiaste
O remoer do absurdo
Em tua sarça ardente
Cremavas o futuro
Deste teu filho sem pai
Eu, o Filho da Viúva
Que em teu túmulo
De covardes não jazz !!!
Ah, mama fantástica
Sempre tão solícita
Sempre tão artística
Sempre tão sádica
Nunca me percebeste
Que de tuas entrelinhas
De frio Ártico
Os icebergs teus filhos
Eles fundeavam na nau
“Viver Não É Preciso”.
De onde vieste ???
De que íngremes partes ???
Nas caravelas de Cabral ???
Das jangadas do Ceará ???
Das áridas areias do Saara ???
Da longínqua estrela polar ???
Não tiveste Mãe, mãe ???
Não te ensinaram abraçar ???
És apenas sertão e caatinga ???
Bebeste água quente da cacimba ???
Já Sei !!! És Filha Híbrida Dos Confins
E Implante Do Senhor Das Galáxias !!!