Navegante

O mar foi, desde sempre

uma multidão de gotas

Afastadas minuto a minuto pelo remo

Remei o bastante para passar do inferno

Sem mais nenhum suspiro a mudar de rota.

Mas o suspiro, eu sei

Eu sei que é vento.

O vento certo de um marujo a atracar na sina.

E as gotas de suor,

as gotas d'água,

as gotas minhas

secaram na espuma infinita da última marina.

Que escolha eu tenho senão navegar num bote sujo até primeiro dos portos?

A água que se banha não é a que se bebe.

Limpa-me então de terra seca, marina

Antes que esse último vento-suspiro, me leve.

Não tenho identidade a não ser esta: o mar!

Que ele me puxe então de volta aos pavorosos montros.

Se a terra que procuro me rejeita

Teria outra marina

para um velho marujo e seus encontros?

Ah, quantas donzelas desfiz-me dos cais!

Quanta foi a prata arranjada na minha humilde carga?

Se minha alma ao diabo

Virou mercadoria

Deixo que ele barganhe o preço com Deus

Pois lembro que velho canto já dizia:

- Se tens a alma grande, grandes amores, pois, serão os teus.

RNetto
Enviado por RNetto em 14/11/2018
Código do texto: T6502730
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