Navegante
O mar foi, desde sempre
uma multidão de gotas
Afastadas minuto a minuto pelo remo
Remei o bastante para passar do inferno
Sem mais nenhum suspiro a mudar de rota.
Mas o suspiro, eu sei
Eu sei que é vento.
O vento certo de um marujo a atracar na sina.
E as gotas de suor,
as gotas d'água,
as gotas minhas
secaram na espuma infinita da última marina.
Que escolha eu tenho senão navegar num bote sujo até primeiro dos portos?
A água que se banha não é a que se bebe.
Limpa-me então de terra seca, marina
Antes que esse último vento-suspiro, me leve.
Não tenho identidade a não ser esta: o mar!
Que ele me puxe então de volta aos pavorosos montros.
Se a terra que procuro me rejeita
Teria outra marina
para um velho marujo e seus encontros?
Ah, quantas donzelas desfiz-me dos cais!
Quanta foi a prata arranjada na minha humilde carga?
Se minha alma ao diabo
Virou mercadoria
Deixo que ele barganhe o preço com Deus
Pois lembro que velho canto já dizia:
- Se tens a alma grande, grandes amores, pois, serão os teus.