Oxímoros do Eu
Amar sem precisar ser amado,
Esquecer antes de próprio esquecimento,
Chorar os amigos sem nenhuma alegria ou lamento; e ainda sorrir com as lágrimas;
me alegre no seio do teu pesar,
Eu luto incessantemente sem lutar
Eu me fidelizo nas traições,
Eu me subtraio nas adições
Eu penso sem pensar,
Eu me emudeço ao falar
Eu me aconteço antes de tudo acontecer,
Eu apareço sem aparecer,
Eu me alegro na festa da tristeza,
Eu me entristeço no velório da alegria.
Sou a noite de cada árduo dia,
Sou o calor que jamais se esfria
Sou a honradez das éticas baixezas,
Sou a justiça nas raízes das vilezas,
Sou as altezas da terra que nos espera,
Sou a terra que sepulta céus e feras.
Me inocento nos crimes da culpa,
Me enveneno nos elixires da cura,
Me fervo no ardor dos mares glaciais,
Me desconheço de meus reflexos ancestrais,
Me pacifico nas tormentas cívicas das guerras,
Mas eu morro tanto em te amar
Nos teus gestos e olhos mudos a bradar.
Eu me encorajo no medo,
Eu me revelo em todos os segredos,
Eu me apego ao desapego,
Eu me encontro ao me perder;
Eu me desperto sem ter acordado,
Eu durmo sem ter adormecido.
Eu me apaixono tanto
Sem nunca necessitar me apaixonar,
Eu sou livre ao me escravizar,
Eu sou o que nunca nasceu,
Eu nasci no dia aniversariante que morreu,
E serei o futuro de todos os passados,
Pois somos os erros e os acertos degredados.
Eu compreendo na ausência de entender;
Eu me anoiteço em cada amanhecer,
Eu me amanheço em cada desfalecer;
Eu me desfaleço nas favelas do viver.
Eu caminho inertemente nas ruas do nada,
Eu existo e vivo sem nunca ter existido ou vivido
Em qualquer mundo, universo e estrada.