O EPITÁFIO DO POETA

Estou deitado em minha cama
Sob um céu cheio de estrelas;
O meu coração é pura chama,
E não me é suficiente vê-las.
 
Não tenho interesses na terra,
Não pretendo mais ficar aqui,
Travando todo dia uma guerra,
Pela felicidade que nunca vi.
 
O meu corpo é uma placenta
Da qual eu vou me desgrudar;
Adeus, ó, triste terra violenta,
Que este poeta agora vai viajar.
 
Flutuando livre e solto ao léu,
Como se fosse feito todo de ar
Mergulharei de vez nesse céu
Para a terra e não quero voltar.

Vou fugir desta esfera girante

Para reentrar no cósmico ovo,
Deixar este mundo estressante,
Noutro mundo nascer de novo.
 
Se acaso eu morrer neste parto,
Que no meu epitáfio seja escrito:
“Ele desencarnou neste quarto,
Mas seu túmulo está no infinito.”