Dom Quixote
DOM QUIXOTE
Acordo, algo me acorda,
não me sinto acordado
O som do relógio dilacera minha alma
Não sei o que é o tempo
Idéias mortas de tempo retiradas de ponteiros e de números,
O sol está lá fora e somente agora eu me lembrei disso,
Acordei para o quê mesmo?
A repetição de meus gestos nesse novo dia,
O que essas paredes não estarão tramando contra mim?
Todas essas coisas,
Todos esses objetos,
Todos esses corpos imóveis e inanimados me causam pavor,
Um pavor repulsivo de enxergar as coisas,
De saber que elas existem de fato e estão lá,
Toda essa nudez sufocante de coisas existirem
E Deus jogando xadrez com o Espírito Santo lá no paraíso.
Vejo a foto de minha amiga em minha mente,
Nossas almas escondidas na gruta de Platão,
E nossos olhos sorriem como crianças
Assistindo a execução de Sócrates.
Acordei para o quê mesmo?
Utopia de sair de casa, e de ser alguma coisa de fato,
Eu sou alguma coisa,
Se não houvesse alfabetos nem linguagens
O que então eu seria?
Já não há mais moinhos de vento para enfrentar,
Já não há mais gigantes e dragões para se surpreender,
Somos agora as velas funerárias no enterro da Verdade.
gilliard alves